Dias após um acidente fatal da Air India que tirou 241 vidas, a companhia aérea anunciou que inspeções em toda a sua frota de Boeing 787 Dreamliner não encontraram falhas nos interruptores de controle de combustível, colocando as atenções sobre o que aconteceu na cabine de comando, enquanto investigadores tentam entender o maior desastre aéreo da Índia em mais de uma década.
O acidente, envolvendo o voo 171 da Air India logo após a decolagem de Ahmedabad em 12 de junho, levou reguladores indianos a ordenar uma revisão urgente de todos os Boeing 787 operados pela companhia nacional. Engenheiros centraram-se na principal dúvida que emergiu da investigação preliminar: poderia uma falha técnica no sistema de interruptor de combustível ter contribuído para a perda simultânea de potência dos dois motores que condenou o voo?
Na quarta-feira, um porta-voz da Air India confirmou que todas as inspeções na frota foram concluídas sem “defeitos ou anomalias” encontrados em nenhum dos interruptores de combustível das aeronaves. Em comunicado, a empresa afirmou que “não há evidências de falha mecânica”, deslocando o foco para as decisões e procedimentos dos pilotos nos momentos finais do voo.
Desastre se desenrola em segundos
Gravações da cabine e dados da caixa-preta capturaram um cenário tenso e confuso enquanto ambos os interruptores de combustível dos motores foram movidos quase ao mesmo tempo de ‘ligado’ para ‘corte’ logo após a decolagem. Um piloto é ouvido exclamando: “Por que você cortou?” seguido imediatamente de negação do outro, levantando a possibilidade de erro humano ou falha de comunicação em um momento de pressão.
Em questão de segundos, ambos os motores perderam potência. Protocolos de reinicialização parcial foram iniciados, mas a aeronave não tinha nem altitude nem velocidade suficientes para recuperação. O jato caiu minutos depois, matando quase todos a bordo e levantando questionamentos sobre os procedimentos da tripulação e as orientações do fabricante.
Panorama mais amplo: antigos alertas e novas dúvidas
O foco nos interruptores de combustível da Boeing não é novidade. Um boletim da Federal Aviation Administration de 2018 já havia apontado potenciais defeitos no sistema em alguns modelos Dreamliner, mas não tornou o cumprimento obrigatório. Investigadores observam que a Air India não havia seguido essa recomendação, embora nenhuma falha tenha sido encontrada até agora em seus aviões.
Reguladores em Singapura, Coreia do Sul e Índia abriram inspeções próprias desde o acidente, sem localizar problemas sistêmicos, mas reforçando a necessidade de atenção contínua aos sistemas das aeronaves e ao treinamento das equipes. Tanto a Boeing quanto a GE Aerospace, responsável pelos motores do 787, afirmaram manter confiança na segurança do projeto atual dos interruptores.
Pressão aumenta sobre práticas e monitoramento da cabine
Enquanto a busca por respostas continua, a falta de clareza das gravações na cabine reacendeu o debate sobre a instalação de câmeras de vídeo no cockpit, tecnologia que muitos pilotos rejeitam, mas que especialistas em segurança dizem ser fundamental para entender decisões em situações como essa.
“A questão não é só o que aconteceu com os sistemas, mas se procedimentos claros e simples na cabine poderiam ter feito a diferença”, disse a analista de segurança aérea Neelam Shah, em Delhi. “Quando a eletrônica funciona como o previsto, tudo ainda depende das escolhas humanas.”
Linha do tempo dos eventos
Data | Evento |
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12 de junho de 2025 | Voo 171 da Air India cai após ambos os motores perderem potência após decolagem |
11 de julho de 2025 | Relatório inicial do acidente aponta foco em interruptores de combustível na cabine |
15 de julho de 2025 | Reguladores globais de aviação ordenam inspeção da frota Dreamliner |
16 de julho de 2025 | Air India relata que todos os Boeing 787 passaram por inspeção; nenhuma falha encontrada |
Olhando para frente: investigações e pedidos de reforma
A investigação do acidente da Air India segue em andamento, com uma equipe conjunta incluindo autoridades indianas, Boeing e a Federal Aviation Administration dos EUA examinando todos os aspectos da rotina na cabine, protocolos e treinamento de pilotos. Por enquanto, nem a Boeing nem órgãos internacionais anunciaram novas medidas para as operações do Dreamliner.
Para as famílias das vítimas, as perguntas continuam. Para companhias aéreas e reguladores, a tragédia mostrou como até pequenas decisões ou deslizes podem ter consequências trágicas.