No discurso bolsonarista ordinário, o Brasil vive ditadura – e do Judiciário. Na prática, já discutimos aqui parte da dinâmica do equilíbrio de poderes que se estabelece na república, um poder se insinuando sempre que um outro se omite consideravelmente, como ocorreu com a inépcia de Bolsonaro. A coisa fica melhor quando o povo no geral também intervém.
Os bolsonaristas são quem melhor interfere no jogo de poder quando o assunto é do interesse deles. Quem melhor tem se beneficiado disso é o Congresso, o que só demonstra o alinhamento de interesses entre o bolsonarismo e um colegiado parlamentar que foi dissecado recentemente: a maioria representa ricos, é contra taxar os seus patrocinadores e é contra a escala 6×1. E é aqui também que o pobre de direita se apresenta como anomalia política somente explicável pelo domínio do opressor no nível simbólico.
Mas o povo também pode se mover numa direção que favorece o governo petista de esquerda quando a lógica da opressão rompe o aspecto da invisibilidade e se torna expressa, ridiculamente visível. Foi o que ocorreu recentemente no caso da recusa do Congresso em aprovar medida arrecadatória do governo que envolvia o aumento da IOF e taxação do andar de cima. Lançando mão da IA e de palavras de ordem (#opiorcongressodahistoria), o povo à esquerda bradou com força e as estruturas tremeram. O efeito disso, retornando ao tema do equilíbrio entre os poderes? As medidas do Executivo serão rediscutidas e o presidente da primeira casa já fala em cortar na carne. Se o ímpeto popular não arrefecer, tem como acabar com o orçamento secreto e os altos salários do judiciário (sim, este último tema também tem sido veiculado como sinal de que os poderes são frágeis nos seus privilégios e que a dinâmica do equilíbrio de poder abala todas as bases deles).
E isso tudo ocorrendo, conforme a paranoia bolsonarista, sob uma ditadura do PT em conluio com o STF (notou que o Xandão não favoreceu o Governo no caso do IOF?) e com representantes brasileiros recorrendo nos EUA a Trump para intervir na “ditadura” brasileira.