O discurso de que pobre odeia rico no Brasil só beneficia a quem é rico. A começar pela proporção numérica, o ódio de pobres contra ricos já teria produzido tragédias absurdas por aqui. Só um dado, a título de ilustração, dá conta dessa gravidade numérica. O 1% mais rico do país auferiu, em 2024, rendimentos 36 vezes maiores do que os 40% com menor renda no país. Se somente estes 40% expressassem qualquer aspecto trágico de um mínimo de ódio de classe que houvesse contra aquele 1%, a Revolucao Haitiana já teria uma equivalente igualmente bem efetivo por aqui.
O que temos na verdade por aqui é a subserviência do pobre ao rico em todos os sentidos. Os pobres prestam continência aos ricos em qualquer lugar em que os veem, submetem-se-lhes a relações informais de trabalho, inclusive o trabalho doméstico, elegem seus representantes políticos e reproduzem indefinidamente o seu discurso ideológico, inclusive o que diz que ricos no Brasil são odiados pelos pobres.
Eu não digo uma ablação de privilegiados, mas pelo menos votar em autênticos representantes dos interesses populares já seria algo bem mais expressivo do que o ilusório ódio de pobres contra ricos no Brasil.